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Foto do escritorThais de Albuquerque

Representatividade Feminina na Arte

Ao longo dos séculos, imagens de mulheres são vistas em pinturas, esculturas e toda forma de arte em museus e galerias do mundo ocidental. Tem mulheres nuas, vestidas, jovens e idosas. Tem mulheres comendo, bebendo, dançando, fazendo sexo, se vestindo. Mas por que o número de obras assinadas por mulheres ainda é tão pequeno nesses ambientes? Por que tem menos mulheres ocupando cargos importantes em museus e galerias?


Ao que parece, os mecanismos de preconceito do mercado de trabalho são os mesmos dentro do mercado de artes.


Dados

Para compreender melhor esse mecanismo, vamos analisar alguns dados importantes e difíceis de mapear:


Nos grandes museus europeus e americanos, só entre 5% e 10% de suas coleções são dedicadas à criação feminina.


Há um desconto de 47,6% para arte feminina em leilões.


No geral, 96% das obras vendidas em leilão são de artistas masculinos.


As mulheres ocupam cerca de 30% das diretorias em museus e ganham 25% menos que diretores homens.


Um levantamento feito em 3.050 galerias do mundo em 2019 aponta 10% não têm mulheres em suas listas; 48% representa 25% ou menos mulheres; 8% representam mais mulheres do que homens.


Observe o ranking de obras leiloadas mais valiosas do mundo.

Agora, vamos à proporção de obras produzidas por mulheres na coleção de museus nacionais:



razões

Não há consenso sobre o motivo para a baixa representatividade e a desvalorização feminina neste mercado, mas alguns fatos nos ajudam a entender a questão:


1. Vivemos em um patriarcado branco que valoriza as conquistas dos homens sobre as mulheres.


2. As primeiras edições dos livros didáticos de história da arte mais populares do século 20 não citam uma única mulher em suas páginas.


3. Por muito tempo, as mulheres foram impedidas de estudar. Quando tiveram essa permissão, somente as ricas tinham acesso e o ensino era limitado, pois elas não podiam estudar o corpo humano.


4. Justificativas abomináveis podem ser lidas por aí, tipo: mulheres fazem arte com características diferentes em tamanho, estilo ou assunto - que é o mesmo que dizer que mulher só faz arte feminina, pequena e delicada.


Além disso, a sociedade ainda insiste em segregar as mulheres dos homens, referindo-se a elas como “artistas femininas”. A divisão é criada quando a arte criada é categorizada por gênero. Por que um artista não pode ser apenas um artista?


consequências

Se a criatividade das mulheres não for defendida, ela desaparece. Aqui não estamos falando em fama, glória ou status. Estamos falando de carreira. Se as artistas mulheres não conseguem sobreviver financeiramente da sua produção, elas são forçadas a ganhar dinheiro em outro lugar, o que significa que elas não têm tempo para fazer sua arte.


qual a solução?

Diante da complexidade da questão, obviamente não é possível apontar uma única solução capaz de revelar a importância da produção feminina nas artes ou a equidade nos cargos ocupados por mulheres dentro das instituições deste mercado. Mas sem duvidas a maior, principal, essencial, fundamental... é o feminismo. O movimento feminista combate o modelo social baseado no patriarcado, luta pela igualdade social e de direitos para as mulheres, além de combater abusos e violência contra as mulheres.


Nos anos 60, artistas como Eva Hesse e Louise Bourgeois consideradas pré-feministas, apresentavam os princípios da arte feminista em suas obras, entretanto ainda de forma não explícita e declarada.

Na década de 70, considerada a era mais radical do movimento artístico, artistas criavam e expunham suas obras intencionalmente visando fomentar a discussão de temas do universo da mulher. Além disso, suas obras enfatizavam as diferenças corpóreas entre homens e mulheres. Artistas como Judy Chicago, Miriam Schapiro, Carolee Schneemann, Mary Beth Edelson, Martha Rosler, Lynda Benglis e Mónica Meyer deixaram sua marca na história.


Os anos 80 trouxeram uma nova perspectiva para a Arte Feminista uma vez que, mais focada no corpo de forma intelectual. Barbara Kruger e o coletivo The Guerilla Girls (As Garotas Guerrilheiras) se destacaram nesse período.


hoje

Hoje, com a democratização dos meios de comunicação por meio da internet e das mídias sociais, as possibilidades de se conhecer e estudar o trabalho de artistas histórias e contemporâneas se amplificaram. Mas não basta esperar que a informação chegue até nós. Também cabe a nós - mulheres artistas, produtoras, curadoras, historiadoras, galeristas, jornalistas, etc - trabalhar em prol produção, documentação e promoção da arte feita por mulheres.


Outro ponto relevante é o reconhecimento partindo das próprias instituições. Considerando que a História da Arte conta a história da humanidade, então os museus precisam adquirir obras de artistas mulheres históricas e lhes dar o devido destaque. Museus e colecionadores compram de galerias e eles não podem enriquecer suas coleções se o trabalho simplesmente não estiver à venda.


Nossa existência, nossa criatividade e nossa relevância deve ocupar justamente a mesma esfera de importância da produção masculina - e sem distinção. O mesmo vale para artistas negros e negras, indígenas, LGBTQIA+. Afinal, se queremos avançar moralmente enquanto sociedade, é preciso reconhecer o espaço de todos os personagens dela, com toda a sua complexidade.





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